sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Negros sim: uma raça que luta por seus direitos e para gerar uma sociedade igualitária


Lourdes Ferreira


"Eu tenho um sonho de que um dia meus quatro filhos vivam em uma nação onde não sejam julgados pela cor de sua pele, mas pelo seu caráter." Martin Luther King, líder do ativismo pelos direitos civis, nos Estados Unidos.

Será que alcançamos o sonho de Luther King descrito nesta frase acima? Este é um questionamento que entidades não governamentais que trabalham com temas ligados aos negros fazem diariamente em todo país. Afinal o Brasil é ou não um país racista? Qual é o papel do negro na sociedade brasileira atualmente? Ainda existe segregação racial?

Ao se comemorar no dia 20 de novembro, o Dia Nacional da Consciência Negra, instituído pelo projeto de lei nº 10.639, dia escolhido devido a celebração da morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, o ativista da Comunidade de Resgate Afro Rosas Negra de Mauá, Eduardo Rosa, ressalta que os negros mesmo tendo conquistado espaço na sociedade ainda sofrem pela discriminação velada existente no país.

Segundo ele, infelizmente no Brasil o racismo é velado, ao contrário do que acontece em países como o Estados Unidos, onde existe uma forte segregação racial, com bairros de negros e brancos. “Os negros dos EUA sabem que o racismo existe e é explicito, fato que não ocorre aqui no Brasil aonde os negros lutam contra uma sombra de racismo, que é muito mais difícil de se combater”, ressalta.

Ainda hoje os negros são minoria em Universidades, cargos de direção em grandes empresas e outros segmentos da sociedade, comenta Rosa. “Mas esta realidade não quer dizer que os negros são incapazes, mas sim, que lhes faltam uma verdadeira política de incentivo que culminará no desenvolvimento sócio-econômico e na ascensão social”.

Para o jornalista da Agência de Informação Multiétnica (AFROPRESS), Dojival Vieira o Brasil pratica uma das mais perversas modalidades de racismo em todo o mundo. “Trata-se do que chamo de racismo cordial, porque é camuflado, dissimulado e hipócrita. Aqui, como você sabe, ninguém se assume racista”, exemplificou.

A realidade do negro na sociedade na visão do jornalista retrata o racismo existente no país, segundo ele os empregados negros ganham menos do que os brancos até 50% menos dependendo da região do Brasil; há mais desemprego entre os brancos nas várias regiões metropolitanas; negros têm 2,2 anos a menos de escolaridade média, que os brancos, desde 1.929; a indigência é 70% negra, embora os negros representem 49,7% da população. Entre os pobres, 63% são negros. Como se não bastasse, a expectativa de vida para os negros é, em média, seis anos menor que para os brancos. “Essa realidade traduz para os negros brasileiros, a desvantagem gerada por quase 400 anos de escravismo e por mais 120 anos de racismo pós-abolição”.

A mudança deste quadro na sociedade brasileira poderá ser revertido, de acordo com Vieira, somente quando o Brasil tiver políticas de fato inclusivas para esses 49,7% e que possibilitem ao país, finalmente, falar em cidadania plena para todos e em democracia. “Enquanto isso não acontecer, a Democracia brasileira, será mais um simulacro, como é, porque não garante a participação e os direitos de todos. Não tem conteúdo social, não passando do plano, meramente representativo, formal”, disse. “Então precisamos continuar avançando na perspectiva de transformarmos a luta por igualdade de oportunidades para todos, uma bandeira não apenas de nós negros, mas de todas as pessoas - negras e não negras - que já adquiriram consciência de que o racismo faz mal ao Brasil”.

Ascensão dos negros na sociedade

Recentemente o mundo teve provas de que, de uma maneira lenta e gradual, a questão do racismo está se transformando. O democrata Barack Hussein Obama, foi eleito presidente da maior potência mundial, os Estados Unidos da América, sendo o primeiro negro a ocupar a Casa Branca. E no mundo dos esportes foi a vez de Lewis Hamilton, piloto negro da MacLaren a ganhar o Campeonato Mundial da Fórmula 1 em 2008, conquistas que mostraram ao mundo que a cor da pele não é entrave para vitórias e sim, condições igualitárias para que haja destaque de negros e brancos na sociedade mundial. Ao contrário do que pregam organizações racistas ativas pelo mundo.